DEDICADO A TODA A ESQUERDA(LHADA), SEM VERGONHA E AMNÉSICA...
... ou, já que falaram de Passos Coelho...
No dia 11 de Março de 2011, Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças de um governo do PS, aparece numa conferência de imprensa convocada para depois de 9 da noite, já depois do fecho das redacções e do prime time dos telejornais, para anunciar aquilo que (não) seria o 4.º PEC apresentado por um governo do PS, liderado à data pelo arguido acusado, José Sócrates.
O que Teixeira dos Santos anunciava era a última tentativa para acalmar os mercados e a pressão insuportável que haviam colocado sobre os juros da dívida pública. Naquela manhã de 11 de Março, os juros da divida portuguesa atingiram o valor record de 8%.
Cortes no investimento publico. Estradas e escolas que teriam que esperar. Aplicação de uma contribuição especial a todas as pensões acima de €1500,00; congelamento das pensões; corte drástico nas indemnizações por despedimento; alteração nas tabelas do IVA; tectos nos benefícios fiscais.
Para não sairmos do contexto, recorda-se que tudo isto foi anunciado durante e por causa de um governo socialista.
No dia seguinte, 12 de Março de 2012, seria dia de Conselho Europeu e havia apostas em como Portugal seria o próximo país a cair, seguindo a Grécia e a Irlanda.
Por esses dias o drama do PSD e de Passos Coelho era saber se apoiava pela 3.ª vez um PEC ou, não apoiando, deixava cair Sócrates e o seu governo. Repetimos para os socialistas amnésicos, bem como para os companheiros da extrema esquerda que, por aqueles dias a dúvida do PSD era sobre se continuaria a apoiar o governo PS e os sucessivos PEC que mais não eram do que prova do fracasso governativo dos socialistas.
Passos Coelho decidiria pelo não apoio a mais um PEC e segundo alguns terá dito, numa conversa telefónica com um banqueiro que pressionava para que mudasse de opinião, que não podia continuar a alimentar um viciado em jogo de casino. Não sabemos se estava a falar de Sócrates ou do próprio governo por este liderado. OU eventualmente, dos dois.
Durão Barroso, à data Presidente do Conselho, tentou demover Passos Coelho. Afinal estava tudo negociado há muito tempo e a aprovação do PEC evitaria a entrada, no nosso país, do FMI e do BCE, algo que - parece - ninguém queria. Passos manteve a sua posição e a conversa entre os dias, dizem, não terminou muito bem.
Passos anunciaria a sua decisão tão logo terminasse o Conselho Europeu.
Assim que a reunião do Conselho terminou Sócrates tenta falar telefonicamente com Passos Coelho. Tarde demais! Já estava em marcha a comunicação ao país em que este anunciaria não continuar a apoiar mais um PEC.
Sócrates, em declarações ao Expresso do dia 12 de Março de 2011 ainda não tinha interiorizado o que se seguiria. « Só com a aplicação destas medidas (as do PEC apresentado no dia anterior por Teixeira dos Santos), o Governo fica em condições de exigir dos demais parceiros do eurogrupo um conjunto de decisões que facilitem o financiamento do país a taxas de juro bastante mais baixas do que aquelas que tem estado a pagar para colocar a dívida pública, sem que isso implique ter de pedir, obrigatoriamente, ajuda ao … FMI»
Na tarde de sábado, a Av. da Liberdade iria encher-se. Era a manifestação da geração à rasca. 200 mil nas ruas de Lisboa. 80.000 no Porto.
Saltamos para o dia 14 de Março de 2011, uma segunda feira e para uma reunião daquilo que era o núcleo duro de José Sócrates. Desta vez e embora não fizesse parte desse núcleo, Teixeira dos Santos participaria. E participou para dizer aquilo que Sócrates, Primeiro Ministro de um governo PS, não queria ouvir. Dizia Teixeira dos Santos « Se o PEC for chumbado, ainda teremos de ser nós a pedir ajuda ».
Mas Teixeira dos Santos fez mais. Explicou, para azia e mau estar do Primeiro Ministro, aquilo que estava em causa. O chumbo do PEC produziria um efeito automático de downgrade dos ratings da República e isso tornaria o pagamento da divida, até ao mês de Junho seguinte, numa missão impossível. Junho é um mês particularmente exigente para a tesouraria do Estado. Ele eram os reembolsos de IRS e os subsídios de férias dos funcionários públicos e tudo o resto …
Sócrates, igual a si próprio e numa atitude que anos mais tarde se transportaria para um processo crime onde está acusado, entre outros, pelo crime de corrupção, no qual ele próprio acusa tudo e todos e atira para todos os lados, Sócrates naquele dia de Março lança a Teixeira dos Santos a frase desafiante « Querem que eu vá pedir ajuda mas eu não vou ! » Vê-se bem o sentido de Estado e a preocupação com o país e com os portugueses.
Como a história já vai longa, saltamos para 20 de Março de 2011, um domingo.
O núcleo de Sócrates era tão duro mas tão duro e tão restrito que colocava de fora Ministros do próprio Governo, como António Serrano, Gabriela Canavilhas, Ana Jorge, Alberto Martins, Dulce Pássaro, todos eles ignorantes do novo PEC e da urgência da sua implementação. Souberam pelas televisões.
A acrescer a tudo isto, o documento que tinha sido negociado com Bruxelas e que serviria de base ao PEC continha medidas que não tinham sido tornadas públicas em Lisboa. O salário mínimo já não subiria para os prometidos 500 euros; passariam a haver cortes adicionais, ainda em 2011, em áreas como a saúde (100 milhões ), nas empresas públicas (150 milhões), privatização das linhas suburbanas de comboios. Na cabeça de Teixeira dos Santos estava, inclusivamente, a privatização da RTP. Não se viria a concretizar.
Mais um salto, desta feita para 23 de Março de 2011, data em que o PEC foi apresentado no Parlamento.
Teixeira dos Santos esforçou-se por explicar as consequências da não aprovação do PEC. Agravamento das condições de mercado com consequências na capacidade do país se financiar. Agravamento das condições de mercado com consequências na capacidade do país se financiar.
Assim que Teixeira dos Santos terminou o seu discurso de 15 minutos, Sócrates levantou-se da bancada do Governo e saiu do hemiciclo. Não falou com ninguém, não prestou quaisquer declarações. Disse um lacónico “Boa tarde”. O Primeiro Ministro abandona o debate, numa atitude de completo desrespeito pela instituição parlamento e por toda a oposição.
O debate no parlamento terminaria cinco horas depois. As medidas propostas para o PEC foram chumbadas por todos os partidos da oposição. Repetimos. Todos os partidos da oposição chumbaram as medidas que estavam a ser apresentadas e não apenas o PSD.
Às 21h01m do dia 23 de Março de 2011 Sócrates fala ao país para informar que uma horas antes tinha apresentado a sua demissão ao Presidente da República, Cavaco Silva.
Estava aberto o caminho para a entrada da troika.
(continua)